Vivemos um momento estratégico
A indústria do alumínio está pronta para investir, basta o governo criar as condições, afirma o professor e economista Fernando Garcia
O Brasil voltou a crescer. Isso é muito positivo para o consumo, mas a indústria nacional corre sérios riscos, pois enfrenta uma forte concorrência internacional de produtos chineses e não tem condições para investir em competitividade. Se esse quadro não mudar o País continuará consumindo alto, mas sem indústrias para garantir um crescimento sustentável no futuro. Segundo o professor e doutor em economia Fernando Garcia, o momento é estratégico para reverter esse cenário, pois tanto governo como a indústria podem fazer sua parte para evitar uma desindustrialização do país. Leia a seguir a entrevista do professor Garcia, que está trabalhando em um novo serviço aos associados da ABAL para 2012.
Qual a atual situação da indústria brasileira do alumínio?
Apesar de ter batido recordes de produção nos últimos anos, a indústria de alumínio perdeu quase um quarto do valor de produção, em razão da queda dos preços das commodities e da concorrência internacional de produtos de alumínio. Com isso a indústria vem perdendo sua capacidade de geração de renda, o que acaba levando a fazer ajustes nos investimentos. Esse aspecto é preocupante, pois compromete a competitividade do setor a médio e longo prazo.
Por quê?
Porque investir na expansão da capacidade é o mecanismo pelo qual o novo conhecimento e as novas tecnologias entram nas empresas e é quando se observa ganhos de produtividade. Se os competidores internacionais continuam investindo em escala de produção eles ampliam ainda mais as diferenças em relação à indústria brasileira.
O que fazer para recuperar a competitividade quando vivemos uma valorização cambial e os custos operacionais só crescem?
O que o Brasil fez no passado não se deseja, como o arrocho salarial e a desvalorização do câmbio, pois mataria o bom momento de crescimento do consumo. O correto para a indústria é definirmos uma nova base institucional que favoreça os investimentos na cadeia de alumínio. Um caminho seria a desoneração da mão de obra, da energia, a retirada da carga tributária e melhores condições de investimento, ampliando prazos de financiamento com menores taxas de juros.
Nesse meio tempo, até termos os efeitos desses investimentos, precisamos ter medidas que protejam o mercado doméstico da concorrência desleal e da entrada de produtos abaixo do custo. Esse controle precisa ser retomado pelo governo para evitar a continuidade desse processo de perda de valor, pois ele levará à desindustrialização.
Explique melhor esse bom momento de consumo no Brasil?
A partir de meados da década passada o Brasil voltou a crescer sem inflação; pequenas medidas do governo geraram taxas de crescimento bastante significativas. O número de empregos cresceu e os salários aumentaram o que dá pela frente uma trajetória muito boa do ponto de vista de formação de consumo. Some-se a isso uma agenda de eventos e projetos que já está acertada nos próximos anos, com Copa do Mundo, Olimpíadas e Pré-sal, que dará um volume muito expressivo de atividade econômica até o final da década. Essas condições nos dá uma perspectiva de crescimento da economia com um padrão de 5,2% ao ano, nos próximos 15 anos.
Qual o reflexo desse crescimento do PIB no consumo de alumínio?
Só com essas condições, que gerariam um crescimento de 5,2% do PIB, podem resultar em um aumento do consumo de produtos de alumínio de 8,9% ao ano até 2025, atingindo 4,6 milhões de toneladas/ano, ou a um consumo de 20 kg/habitante, equiparando-nos ao da Coreia do Sul no início dos anos 2000.
Esse crescimento de 5,2% do PIB poderá ser alçado a 6% ao ano se forem garantidas as condições de competitividade industrial nos próximos anos, com elevação da renda e salário provenientes dos empregos industriais, e que serviriam de nutrientes para o próprio crescimento da economia. Esse cenário levaria a uma expansão do consumo de produtos alumínio para 10,7% ao ano e ao patamar de 6 milhões de toneladas/ano.
Estamos então vivendo um momento estratégico da indústria?
Sim, o Brasil voltou a crescer e isso é muito positivo para a expansão do mercado, mas estamos também enfrentando uma concorrência internacional muito pesada da China, com preço que nossa indústria não consegue praticar. Temos de mudar o quadro atual, pois enquanto a economia cresce com a entrada de capitais estrangeiros, o País chegará em 2025 sem indústria o que comprometerá seu crescimento daí em diante.
Se o governo hoje tem grau de liberdade para reagir às crises econômicas, também tem como combater a desindustrialização, desonerando a indústria, reduzindo o custo de capital e criando condições positivas para investimentos. Digo que esse é um momento estratégico, pois tanto o governo como a indústria podem fazer sua parte. A indústria está pronta para investir, basta criarem as condições.
Em 2012 a ABAL oferecerá um novo serviço aos associados desenvolvido por você, do que se trata?
Será um trabalho de acompanhamento econômico do mercado de alumínio, sempre do ponto de vista de perspectiva, com o objetivo de levar aos associados informações para seu planejamento estratégico e de produção. A partir de janeiro, faremos mensalmente uma análise da evolução dos indicadores da indústria do alumínio e, principalmente, de setores consumidores, os quais serão rebatidos em termos de perspectivas de crescimento do setor do alumínio.