Perigo latente para o Mercosul
Mauro Laviola, diretor da AEB, fala sobre a atual situação do bloco e os riscos para o Brasil com a criação da Aliança do Pacífico
Com a suspensão do Paraguai, o Mercosul – bloco econômico formado por Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e agora Venezuela – vive um imbróglio político que só aumenta as restrições comerciais do bloco; enquanto isso, Peru, Colômbia e Chile formam junto com México a Aliança do Pacífico, o que poderá trazer sérios problemas para os produtos industrializados brasileiros nesses mercados. Leia mais na entrevista com Mauro Laviola, diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e coordenador da Sessão Brasileira do Mercoex – Conselho de Comércio Exterior do Mercosul.
P. qual a situação atual do Mercosul e da participação do Brasil ?
R. O Mercosul hoje está em um imbróglio político, porque ainda há dúvidas quanto a legitimidade da suspensão temporária do Paraguai e também porque as decisões comunitárias não podem prescindir da aprovação conjunta dos países membros titulares. Embora o Paraguai esteja suspenso do bloco, isso não invalida a necessidade dos cinco membros efetivos internalizarem as medidas para que elas tenham validade jurídica.
Quanto ao Brasil, a única certeza é que a Argentina é o nosso principal parceiro das exportações industriais, apesar das inúmeras restrições às importações de uma maneira geral, inclusive aos demais países do bloco. Tido como líder do bloco, mas que se deixa envolver por atos políticos e ideológicos dos outros países, o Brasil está amarrado em uma camisa de força ao Mercosul e sem nenhuma aparente condição de se libertar desse emaranhado.
P. o que muda com a entrada da Venezuela no bloco?
R. A Venezuela já era um mercado bem explorado pelo Brasil, pois já existe um acordo comercial tarifário com aquele país no âmbito da ALADI (ACE 59) em que há uma abertura maior para a Venezuela do que deles para o Brasil. Não obstante, a Venezuela faz muitas compras de bens primários e industrializados do Brasil e da Argentina em função desse acordo e por certas decisões governamentais de aquisição de alimentos básicos para abastecer sua população.
P. Algum dia o Mercosul já foi vantajoso pro Brasil?
R. É evidente que depois da criação do Mercosul as exportações brasileiras para a região cresceram bastante, mas em função também do aprimoramento de determinados setores e de um mercado favorável aos produtos industriais brasileiros. A eventual vantagem, é que se criou no início do bloco uma tarifa externa comum que configurou uma preferência vantajosa aos produtos brasileiros no mercado argentino. Mas isso também já estava delineado no ACE 14 da ALADI, como, aliás, ocorrem em outros acordos firmados com os demais países da América do Sul mais México e Cuba.
P. como o senhor vê o futuro do Bloco?
R. O Mercosul continuará como está, os problemas de contenciosos comerciais continuarão ao sabor de maior ou menor crescimento da Argentina; e parece que não haverá grandes crises argentinas daqui pra frente, mas também não quer dizer que veremos uma liberalização comercial por parte deles. E o Brasil continuará tentando manter o mercado preferencial de produtos industrializados que mantém na região, não só com a Argentina como com os demais países, especialmente Chile, Peru e Colômbia.
Mas há aí um perigo latente. Esses três países junto com o México formaram a Aliança do Pacifico, um pacto estratégico muito importante, aproveitando acordos de liberalização comercial já existentes entre eles, além de outros acordos mais amplos firmados com países asiáticos em largo processo de desenvolvimento tecnológico como China, Coréia do Sul, Japão, Taiwan e Cingapura, além dos Estados Unidos e da União Europeia. A tendência, a médio prazo, é que Chile, Peru e Colômbia se voltem mais para outros lados do que propriamente para a América Latina, o que poderá trazer sérios problemas de colocação dos produtos industrializados brasileiros nesses mercados.