Custo de mão de obra e competitividade
Há meios para reduzir os gastos com a folha de pagamento
Na busca permanente por melhores condições de competitividade e redução de custos, os empresários brasileiros são ágeis em encontrar soluções para o alto preço da energia, problemas de logística e infraestrutura – itens do chamado “custo Brasil” que tanto atinge as empresas nacionais – e, entretanto, aceitam, até passivamente, os elevados gastos com o custo total da mão de obra.
É verdade que, para diminuir os custos com pessoal, são utilizadas algumas alternativas legais, como a contratação de serviços através de pessoas jurídicas e a terceirização de serviços (alternativa sempre polêmica e, por vezes, discutível do ponto de vista de redução de custo). Mas esses são paliativos que não solucionam realmente a equação custos e competitividade.
Vivemos numa economia aberta de mercado, em que a disputa por profissionais qualificados é bem acirrada. Nesse cenário, as empresas procuram pagar salários condizentes com o mercado em que atuam e nesta condição estão submetidas às condições naturais de oferta e demanda da mão de obra. Vamos classificar esta condição de base 100. Adicionalmente, aplica-se sobre esses salários uma pesada carga de tributos que chega a 102%.
Para manter esse disputado empregado em seu quadro de funcionários, é preciso ainda complementar uma estrutura deficiente, oferecendo-lhe planos adicionais de assistência médica, aposentadoria, educação (formação/qualificação), transporte etc. Para a concessão destes benefícios algumas empresas incorporam até 30% a mais na já carregada planilha de custos.
A esta altura temos aquela base 100 transformada em 232, significando que para 100 unidades de salário básico as empresas desembolsam até mais 132 unidades. Há quem diga que este número é exagerado como também, uma nova corrente, aponta que os encargos estariam em 180% e não mais 102%! Paramos por aí? Não!
Quando pensamos que acabou, aparecem os custos adicionais resultantes de uma avalanche de processos contra as empresas, com origem em uma legislação ultrapassada e que se centram em temas como: horas in itinere, jornadas de trabalho, horas extras, adicionais e outras tantas questões derivadas de novas interpretações das leis, portarias, normas regulamentares e outros mecanismos de controle – vide a criação do ponto eletrônico.
São situações, as quais eu chamo de “custos absurdos” que, a depender do assunto, chegam a 10% ou 20% de acréscimo. Até aqui, nossa base 100 transmutou-se para 252. Se incluirmos um último bloco, de custos decorrentes da secular falta de qualificação interna para a gestão destes temas; do relacionamento por vezes difícil com os sindicatos, responsáveis teóricos pelo equilíbrio de forças capital/trabalho, teremos então um ambiente nada competitivo e produtivo sob o aspecto de mão de obra.
Chegamos então a uma equação perversa: falta de mão de obra qualificada, mais padrão educacional heterogêneo, mais complexidade da legislação e altos custos é igual a produtividade e competitividade baixas. E, por favor, não esqueçam os fatores estruturais mencionados no primeiro parágrafo!
Agora sim, em quais frentes atacar?
Obviamente não temos aqui a pretensão de apresentar soluções definitivas e acabadas sobre o que mencionamos acima. Porém, recomendamos a seguinte abordagem:
• Estabeleça políticas de gestão de remuneração e benefícios condizentes com a realidade da sua empresa.
• Desenvolva auditorias trabalhistas periódicas. Treine e desenvolva sua liderança para a condução destes assuntos. Estabeleça planos de prevenção. Acredite, é melhor do que ser surpreendido com autuações, processos e interferências na sua gestão.
• Calcule seu custo total de pessoal anual (não esqueça da base que falamos no início) e compare-o com os diversos projetos ditos “técnicos/produtivos”. Cuide do seu custo de pessoal e recursos humanos da mesma maneira.
• Invista na qualificação e motivação das pessoas. É um excelente negócio! Pense. Quanto vale o capital humano de sua empresa? O conhecimento do que você produz tem muito valor e ele está nas mãos de quem?
• Apesar da floresta quase que impenetrável representada pela legislação e outras medidas, diversas ações de flexibilização e atendimento às necessidades das empresas têm surgido por meio de excelentes negociações promovidas por empresas e sindicatos dos trabalhadores. Mesmo nas correntes mais radicais há possibilidade de diálogo.
• Atue de forma institucional, apoiando as iniciativas das associações e sindicatos de empresas do seu setor/região na busca de soluções conjuntas. Lembrem-se, não participar e fazer valer seus interesses não é uma boa alternativa. Sejam protagonistas e não coadjuvantes.
Essas poucas medidas podem contribuir para a melhoria da sua produtividade e competitividade.