Valor Econômico – Especial Pará Avanço na cadeia produtiva – Associação Brasileira do Alumínio – ABAL
Acesse a área do associado Fale Conosco
← voltar para Banco de Notícias

Valor Econômico – Especial Pará Avanço na cadeia produtiva

17 de dezembro de 2015

As empresas investiram R$ 12,2 bilhões na última década para ampliar a capacidade instalada no Estado.Ambiente regulatório e infraestrutura ainda são entraves

Do Valor Econômico – Cadernos Especiais (16/12/15),  Por Simone Goldberg 

A cadeia de alumínio no Pará movimentou R$ 7,25 bilhões em 2014, o equivalente a 13,4% dos negócios do segmento no país. A atividade no Estado manteve 8,1 mil empregos diretos e 4,5 mil vagas indiretas. Só em compras de bens e serviços foi gasto R$1 bilhão pela cadeia setorial paraense no ano passado.

Os números constam do estudo que a Associação Brasileira do Alumínio (Abal) realizou recentemente e podem ser reforçados com a conclusão de um dos maiores projetos previstos para o setor: o Alumina Rondon, da Votorantim Metais. Os investimentos somam cerca de RS 8 bilhões e contemplam uma mina de bauxita e uma refinaria de alumina no município de Rondon do Pará para produzir anualmente 9 milhões de toneladas de bauxita lavada e 3 milhões de toneladas de alumina.

As operações, segundo Carlos Gatti, gerente de saúde, segurança e meio ambiente, terão início em 2019, “caso o cenário mundial também sinalize as melhorias necessárias à segurança de investimento no projeto”. O momento atual, de fato, não é bom, uma vez que a produção será exportada. Há excesso de oferta de alumínio no mundo, a produção chinesa vem subindo nos últimos anos, e os preços caíram.

Em fase de licenciamento ambiental, o Alumina Rondon deve gerar, só na construção, 10 mil postos de trabalho. Quando pronto terá mais 1,8 mil vagas diretas e indiretas. O diretor de Geologia, Mineração e Transformação Mineral (Digem) da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), Eduardo Leão, diz que a unidade produtiva da Votorantim Metais demandará estudos sobre o potencial para maior verticalização do setor, já à luz da nova lei de incentivos fiscais do Estado, que visa à geração de renda, emprego, agregação de valor, sustentabilidade e inovação.

O empreendimento será importante para viabilizar a Ferrovia Paraense (Fepasa). A linha férrea deve ser licitada no início de 2016 e transportará grãos das áreas produtoras até o Porto de Vila do Conde, em Barcarena. Deverá ser ligada por ramal à Ferrovia Norte-Sul, em Marabá. Empreendimentos do gênero são capazes de movimentar a economia do Estado, como mostra a pesquisa da Abal. Uma expansão de 10% na atividade extrativa de bauxita geraria 344 novos postos de trabalho, cerca de R$ 50 milhões de PIB e RS 17,7 milhões de impostos e contribuições estaduais e federais, além de taxas. Já com a alumina e o alumínio, o crescimento de 10% da produção traria 424 novas vagas, outros RS 87 milhões no PIB estadual e R$ 54,3 milhões de impostos e contribuições.

Para o presidente da Abal, Milton Rego, o Brasil não utiliza as enormes vantagens competitivas que possui, especialmente no Pará, para a produção de alumínio primário (o “metal” alumínio) e manufaturados.  “O Estado tem capacidade de geração de energia hidrelétrica de baixo impacto ambiental quando comparada a outras regiões, jazidas de bauxita de excelente qualidade e empresas de elevada capacidade técnica e disposição para investimento”, ressalta.

Para o dirigente, a cadeia produtiva do alumínio no Pará oferece inúmeras oportunidades, desde que alguns nós sejam desatados. É preciso, segundo ele, dar confiança aos agentes econômicos de que o ambiente regulatório em que operam é claro e estável. Os custos da oferta de energia elétrica e de gás, por sua vez, precisam ser competitivos em termos internacionais. Outro nó a ser desfeito é a infraestrutura logística e urbana.

Em relação aos investimentos, a pesquisa da Abal mostra que as empresas do setor desembolsaram nos últimos dez anos mais de R$ 12,2 bilhões em obras de expansão  da capacidade instalada no Pará. O quadro mudou com a desaceleração da economia brasileira. A queda na demanda de setores consumidores, como transportes, construção civil e embalagens, afetou fortemente o segmento. Rego calcula que o mercado interno de alumínio deverá ter retração de 5% a 7% neste ano.

Já as exportações, que estavam sem crescimento, apresentam tendência de alta para 2016, “acima de 15%”, diz o dirigente. O avanço é um reflexo positivo do câmbio, que também ajudou a frear importações, especialmente da China. “Houve retração nos últimos três meses, acompanhando a diminuição do consumo interno e a alta do dólar”, avalia o executivo.

Enquanto aguarda o projeto Alumina Rondon concretizar-se, o setor de alumínio no Pará já conta com fabricantes como a norueguesa Hydro, que mantém mina de bauxita em Paragominas, a Alunorte (refinaria de alumina) e a Albras (produtora de alumínio) apostando em avanços, que renovou em julho acordo de concessão de benefícios fiscais com o governo do Estado e vai ajudar a verticalizar a cadeia produtiva do setor na região.

Pelo acordo, a empresa, que já fornece insumo para a Alubar produzir fios e cabos no Estado, vai garantir matéria-prima adicional a uma nova empresa, a Alloys, que fabricará, em Barcarena, perfis, esquadrias e tarugos. A Hydro também vai instalar, nos próximos anos, uma nova linha de liga especial de alumínio na Albras, com capacidade anual de 40 mil toneladas, visando atrair empresas para produção de componentes automotivos.

Entre os vários itens do acordo, firmou-se o compromisso para que a empresa retome, em 2018, os estudos para implantação da Companhia de Alumínio do Pará (CAP). O projeto foi suspenso devido às más condições do mercado de alumínio e, se for adiante, exigirá a expansão da produção da mina. Além de extrair bauxita em Paragominas, a Hydro também obtém o produto da Mineração Rio do Norte, na qual tem 5% de participação, e está negociando com a Vale a compra dos 40% da mineradora brasileira no negócio.

Neste ano, as vendas da Albras devem chegar a 425 mil toneladas em 2015, contra 438 mil toneladas de 2014. “A variação deve-se à diminuição da produção industrial brasileira e ao aumento das importações”, explica o vice-presidente executivo da área de negócios bauxita & alumina, responsável pelas operações da Hydro no Brasil, Alberto Fabrini Junior. A crise do setor, até o momento, comenta o executivo, não trouxe impactos significativos na produção da empresa.

A bauxita da Hydro é usada no abastecimento da Alunorte, cuja produção tem 15% voltados ao mercado interno, suprindo a Albras, e 85% exportados. Da produção da Albras, 27% ficam no mercado doméstico e, aproximadamente, 73% são vendidos ao exterior. Já a Alubar, cliente da Albras, fabrica fios e cabos para abastecer o mercado interno, especialmente os grandes players do segmento de energia elétrica.

“Hoje, o Brasil é o país que concentra os grandes projetos de linha de transmissão. O maior mercado para os nossos produtos está aqui”, diz o diretor executivo Ricardo Figueiredo. Mas, com a crise econômica, os leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) foram ou cancelados ou pouco concorridos. Com o crédito para investimento mais difícil, a demanda da Adubar foi afetada, e o volume de vendas caiu 15% em 2015 em relação ao ano passado.

Para o analista da Tendências Consultoria, Felipe Beraldi, por ser eletrointensivo, o alumínio tem custos de produção muito elevados no Brasil, e isso, junto com a recessão, tem levado ao fechamento de várias unidades nos últimos anos no país. “É muito difícil competir com a China, que tem custos bem mais baixos e vem aumentando a produção rapidamente nos últimos anos”, observou.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *