Diesel: produto fundamental para a competitividade do país – Associação Brasileira do Alumínio – ABAL
Acesse a área do associado Fale Conosco
← voltar para Banco de Notícias

Diesel: produto fundamental para a competitividade do país

22 de abril de 2009

Um país que quer ampliar sua participação no mercado global, não pode render-se às declarações do presidente da Petrobras, de que manterá os preços dos derivados de petróleo no mercado doméstico

 

Adjarma Azevedo
Vice-presidente e coordenador do Grupo Setorial Primários da Associação Brasileira do Alumínio – ABAL

Um país que quer ampliar sua participação no mercado global, competindo em iguais condições com outras economias, não pode render-se às declarações do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, de que manterá os preços dos derivados de petróleo no mercado doméstico, não acompanhando a queda do preço internacional do produto. Nesse momento de forte retração econômica mundial, em que as relações comerciais vivem à sombra ameaçadora do protecionismo, os setores produtivos brasileiros precisam de uma política sólida e clara, que dê suporte para competirem com seus produtos no mercado internacional.

A participação brasileira no mercado externo é fortemente sustentada pelas commodities, como os grãos e metais; produtos altamente estratégicos para a balança comercial e, ao mesmo tempo, sensíveis às oscilações de oferta e de demanda. No Brasil, o alumínio primário, por exemplo, desde 1990 tem sua comercialização baseada nas cotações da London Metal Exchange – LME, cujas oscilações para mais ou para menos refletem diretamente sobre o preço do metal negociado, lá fora ou no Brasil.

Essa condição não comprometeu o contínuo desenvolvimento da indústria do alumínio no Brasil, que nessas duas últimas décadas consolidou sua importância estratégica ao atender à crescente demanda interna dos principais setores econômicos – como as indústrias de embalagens, transportes, construção civil, eletricidade, bens de consumo, entre outras – e contribuir com a geração de divisas, que somente nos últimos dez anos  totalizaram US$ 25 bilhões. Provenientes do sexto maior parque produtor de alumínio primário do mundo, as exportações brasileiras do setor representam atualmente 4,5% da balança comercial brasileira.

Para se manterem globalmente competitivos, tanto o alumínio como os demais itens de exportação brasileiros devem ter seus custos alinhados às regras internacionais e não submetidos a desígnios locais. É exatamente o contrário do que propõe a Petrobras ao se recusar acompanhar as variações do preço do petróleo e seus derivados, argumentando serem temporárias. Além disso, a aposta da estatal, de haver um significativo aumento nas cotações da commodity ainda este ano, não é acompanhada por analistas do mundo todo, que não vislumbram uma pressão maior na demanda por petróleo, nesses tempos de recessão econômica. Previsões apontam para um preço do barril (WTI) a US$ 63, no quarto trimestre de 2009.

Mas a Petrobras apenas acompanha o mercado internacional nos períodos de alta, repassando os reajustes sempre que petróleo sobe lá fora, nunca reduzindo. Por conta dessa prática acumulativa, a média do preço do óleo diesel cobrados pela estatal entre 2004 e 2008 foi 170% maior que o praticado no mercado externo; em janeiro de 2009 essa variação atingiu impressionantes 250%. Outros derivados como o gás liquefeito de petróleo – GLP e os lubrificantes também sofreram reajustes médios de 35% em 2008 decorrentes da mesma justificativa de alta nos preços internacionais.

Curiosamente o óleo combustível nacional costuma acompanhar as cotações no exterior, ao ponto de seus preços praticamente estarem equiparados no início do ano. O motivo dessa distinção é que a companhia adota políticas distintas de preço para seus produtos, talvez em razão do óleo combustível entrar no cálculo dos índices de inflação; enquanto que diesel e gasolina, principais produtos comercializados pela estatal, contribuem para aumentar superávit primário do governo.

Enquanto a Petrobras aplicar essa política diferenciada de preços, setores econômicos essenciais para a balança comercial do país, como o de mineração, industrial e de agronegócio, continuarão sofrendo com a perda de competitividade, tanto no processo produtivo, quanto no transporte de matérias primas, insumos e produtos.

Como foi dito, há quase duas décadas o alumínio brasileiro se despregou do controle de preços e passou a acompanhar as cotações da LME, assim como as demais commodities metálicas. Desde então nosso produto nacional é negociado em iguais condições de competitividade, com seu preço variando em função do mercado internacional. Se a indústria do alumínio pode enfrentar essa volatilidade, a Petrobras deveria também fazer o mesmo com seu produto, que também é commodity, e submetê-lo às variações do mercado mundial.

Que a Petrobras faça isso, ou viabilize a importação de petróleo e seus derivados por outras companhias petrolíferas, abrindo a concorrência. Pois a globalização não aceita regras locais e, infelizmente, quem está pagando o alto preço desse desalinho são setores fundamentais e estratégicos da economia.

Fonte: Gazeta Mercantil, 22.04.2009 – Infraestrutura (pág C-6)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *